sexta-feira, 14 de maio de 2010

Causo Sertanejo - Cap IV

Justino estava alí, atônito. A seus pés jazia o corpo, ainda quente, do gato Milo. Chamou, gritou, chacoalhou, mas nada do gato voltar à vida. A terra começava a absorver a pequena poça de sangue que lá havia se formado ao mesmo tempo que a angústia se apoderava do sertanejo. (O lado bom desse episódio, pensaria Justino mais tarde, era que acabaria sendo muito exclarecedor em relação a gatos terem ou não sete vidas.)
Assustados com os gritos, os moradores do vilarejo aos poucos ia se acordando e, um a um, se amontoavam para observar aquele cadáver peludo. Muitos sentiam pena do animal, outros de Justino, alguns ainda achavam que, na verdade, Justino era um animal por ter matado aquele inocente bichinho. Mas a grande verdade é que a maioria das pessoas estavam alí para fazerem parte desse acontecimento, que certamente se extenderia por muito tempo na vila.
E os dias foram se passando. Devagar, o luto de Justino ia diminuindo e começava a retomar a sua fracassada vidinha. Havia enterrado seu gato em uma cova rasa aos fundos de sua casa junto com a coleira que há tempos havia lhe presenteado. Sempre que podia, ia até lá para bater um póstumo papo com seu fiel amigo.
Passados exatos vinte e um dias do óbito de Milo, a vida de Justino já havia voltado ao normal, muita preguiça e cachaça, e seus papos com seu finado gato eram cada vez mais raros. Na noite desse dia, voltando novamente bêbado do bar, viu ao longe um par de olhos vermelhos o fitando no meio da estrada. Aproximou-se. Justino estava cada vez mais perto e começava a distinguir as formas do corpos que conduziam aquele par de olhos diabólicos. Um bicho, pequeno, peludo, de orelhas pontudas e um longo rabo com a ponta quebrada. O matuto não teve dúvidas:
- MILO!!! - Gritou Justino.
- FSSSSSSSSSS - Respondeu o gato dando as costas e saindo em disparada.
O coração de Justino quase escapou pela boca. Correu como um louco para sua casa a fim de sanar uma desconfiança que, de súbito, lhe ocorrera. Ao chegar aos fundos da casa o improvável havia acontecido. A cova de Milo havia sido removida e seu corpo não estava mais alí.
O que aconteceu com o gato? Conseguirá Justino alcançar o gato misterioso? Milo voltou a vida? Dunga voltará atrás e convocará Ganso e Neymar? Não perca os próximos episódios.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Causo Sertanejo - Cap III

Restavam ainda R$ 150,00 nas mãos de Justino. O que fazer? Ele poderia muito bem pegar esse dinheiro e comprar uma outra vaca, o que aumentaria a produção de laticínios de sua mulher e, com isso, traria mais conforto à sua casa. Tinha também a opção de investir em cabras, criação que sempre lhe agradou e que, certamente, iria lhe trazer um bom retorno. Montar um galinheiro era também uma de suas opções, pois poderia ter uma renda extra vendendo ovos e galinhas. Justino então escolheu a opção que lhe parecia mais lógica e comprou uma bicicleta, afinal de contas, era muito cansativo andar quase 1km todos os dias para poder beber no "butiquim".
Os dias que se passaram não trouxeram maiores novidades na vida daquele sertanejo. Acordava, ordenhava sua vaquinha e passava o resto do dia "descansando", enquanto Dona Francisca dava um duro danado na cozinha e nas vendas na cidade. A única coisa que tirava o preguiçoso da rede era seu gato. Passava horas e horas brincando ou afagando seu felino, recebendo como recompensa uma porção de ronronados cheios de alegria. Mas toda aquela paz estava com os dias contados.
Certo dia, enquanto estava na bodega, bebeu mais do que o costume. A noite caiu. Voltando para casa, mais bêbado que um duende irlândes e desafiando todas as leis da gravidade em cima de sua bicicleta, nada podia enxergar, nada podia ouvir. Eis que, de repente, Justino passa por cima de um obstáculo diferente, uma pedra macia, com rabo, peluda e que gritava: MIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAUUUU!!!!! Aquela pedra, infelizmente, não era pedra. Era seu amado gatinho, Milo.
Num súbito, que nenhum médico consegue explicar cientificamente, mas que todo mundo que já ficou bêbado e viveu situação semelhante sabe, Justino ficou sóbrio. Podia ver o gato se contorcendo e soltando incríveis gritos de dor. O matuto ainda tentava gritar por ajuda, mas sua voz simplesmente não saía. Com muito horror, viu seu adorado bichinho dar sua última contorcida e não mais se mexer. Milo estava morto.
E agora? O que vai ser da vida de Justino? Justino deve se desfazer de sua amaldiçoada bicicleta? Justino abandonará tudo, inclusive sua vida? Conseguirá Lula se reeleger com o pseudônimo Dilma Roussef? Não perca os próximos capítulos desta trama.