Pedido de demissão

"Com o dedo em riste, bradei a plenos pulmões para que todos do escritório pudessem ouvir: Eu queria ser a metade da pessoa que você acha que é, Dr. Saldanha. Eu me demito!

Era verdade, o Dr. Saldanha precisava ouvir algumas verdades.

Aliás, por que Doutor? Um empresariozinho daqueles que mal conseguiu se formar e, porque ficou rico, acha que tem o direito de se entitular doutor? Isso é um mal que assola também a advogados e médicos e, nesse último caso, ainda vá lá. Não quero discordar de médicos. Quem sabe o dia que vou precisar deles?

Mas voltando ao Saldanha. Sim! Saldanha! Quem ele achava que era? Pisando na cabeça de todos? No meu percurso da sala da direção até a saída, ia recebendo dos agora ex-colegas um apoio contido e discreto que podia perceber em seus olhares e alguns burburinhos que agora rondavam por toda a firma. Tive a ousadia que muitos já se imaginaram fazendo, porém, ninguém jamais teve coragem. Saí como um Herói. Hoje estou desempregado."

Está bem, admito. Meu primeiro pedido de demissão não foi tão emocionante, pelo contrário, foi muito monótono. Com a cabeça pensando em tudo, menos na agência. Seria uma covardia continuar enganando a mim e aos meus chefes que eu estava trabalhando. Agora é arrumar a casa, esperar o nascimento do meu bebê e aguardar a minha próxima oportunidade. E você, amigo leitor? Não tem uma vaguinha de redator na sua agência?